Discurso Organizacional e Direitos Digitais: Apontamentos Sobre a Atuação de Grupos Educacionais Privados do Brasil Durante a COVID-19

Resumo

De que forma, no contexto da COVID-19, grupos que atuam no ensino superior privado brasileiro têm avaliado o uso de plataformas digitais em seus processos educacionais? Essa foi a pergunta motivadora para a elaboração deste artigo, que busca refletir, especialmente, sobre a presença ou não de preocupações relacionados à garantia dos direitos digitais nos discursos organizacionais dos quatro grupos com maiores faturamentos na área da educação no país: Cogna, Yduqs, Ser Educacional e Ânima Educação. Compreendendo a importância das plataformas digitais na construção do conhecimento e, ao mesmo tempo, a necessidade de afirmação dos direitos digitais, esse texto se propõe a observar em que medida são abordadas questões como benefícios das tecnologias, legislações nacionais e internacionais que regulem o uso das plataformas e mecanismos de garantia da privacidade e da proteção de dados pessoais. Para tanto, o trabalho analisa posicionamentos expressos por esses grupos em textos de caráter institucional publicados em seus sites oficiais desde o início da pandemia. De um modo geral, conclui-se que há uma perspectiva acrítica na adoção das tecnologias digitais, o que pode ser verificado, por exemplo, na constatação de que nenhum dos conteúdos publicados pelas quatro empresas menciona instrumentos legais, a exemplo da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, nem problematiza aspectos como desigualdades no acesso à internet ou riscos à privacidade dos usuários.